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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

D. Pedro II (Rio de Janeiro, 1825 – Paris, 1891)

D. Pedro II
© Retrato por Bradley & Rulofson, 1876. Biblioteca Nacional do Brasil, http://brasilianafotografica.bn.br/ brasiliana/handle/bras/2940.
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Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga tornou-se, a 7 de abril de 1831, Imperador do Brasil por abdicação de seu pai, D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal). Atingida a maioridade, D. Pedro II foi então coroado Imperador do Brasil, a 18 de julho de 1841, aos catorze anos de idade. Em 1843, casou com D. Teresa Cristina das Duas Sicílias, e governou até 1889, altura em que se exilou em Paris na sequência do golpe de estado de 15 de novembro, que instituiu a república no Brasil.

D. Pedro II era conhecido pela sua dedicação aos estudos, em particular às línguas, incluindo as orientais, como o Sânscrito, o Árabe e o Hebraico. Do Sânscrito traduziu, de forma mais literal e deixando apenas testemunho manuscrito, o clássico Hitopadeśa, do Árabe As Mil e Uma Noites e do Hebraico várias passagens bíblicas. Nas suas traduções, para além de visar o aperfeiçoamento linguístico, D. Pedro II estaria também à procura de semelhanças entre as línguas nativas brasileiras e as línguas asiáticas (Mafra e Stallaert 2016). Além destas línguas orientais e do Português, D. Pedro II dominava também o Alemão, o Italiano, o Espanhol, o Francês, o Inglês, o Latim e tinha conhecimentos de Provençal e de Grego, tendo realizado uma tradução da Odisseia. Dedicou-se, também, ao estudo da língua indígena tupi. Correspondeu-se e conviveu com vários intelectuais europeus como Ernest Renan (1823-1892), o Conde de Gobineau (1816-1882), Emmanuel de Rougé (1811-1872) e Maxime du Camp (1822-1894), entre outros.

Durante o seu reinado, D. Pedro II realizou duas grandes viagens ao estrangeiro. A primeira, entre 1871 e 1872, com início em Portugal, aonde chegou a 12 de junho. Partiu, pouco depois, pela Europa e Norte de África. Esteve em Espanha, França, Reino Unido, Bélgica, Alemanha, no Império Austro-Húngaro, Itália e Egipto, regressando a Portugal a 29 de fevereiro de 1872 para uma visita mais prolongada. Entre as personalidades que estiveram em contacto com D. Pedro  II neste período destacam-se Alexandre Herculano, Augusto Soromenho, Salomão Bensabat Saragga (1842-1900) e Joaquim Possidónio Narciso da Silva. Em Portugal, D. Pedro II visitou ainda a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Imprensa Nacional, partindo de regresso ao Brasil no dia 30 de março de 1872.

Realizou a segunda grande viagem entre 26 de março de 1876 e 26 de setembro de 1877, iniciando-a com uma estada de três meses nos Estados Unidos da América e no Canadá. Seguidamente, partiu para o continente europeu onde, em São Petersburgo, participou como membro honorário no III Congresso Internacional de Orientalistas, entre 1 e 10 de setembro de 1876. Nesta cidade, D. Pedro II foi recebido na Academia de Ciências e na Universidade a 31 de agosto de 1876, sendo-lhe atribuído o diploma de membro de honra de ambas as instituições e convivendo com vários orientalistas russos. Ainda na mesma viagem visitou novamente o Egipto, assim como os territórios que hoje constituem a Grécia, a Turquia, o Chipre, o Líbano, a Síria, Israel, a Cisjordânia, os territórios palestinianos e o Sudão. A 3 de setembro de 1877, visitou a Sociedade de Geografia de Lisboa, recebendo o diploma de sócio correspondente. Esta sociedade inaugurou em 1878 uma secção no Brasil, ativa até 1889, assumindo D. Pedro II a sua presidência honorária. Em 1883 e em 1886 foi, de novo, membro honorário do Congresso Internacional de Orientalistas, desta feita em Leiden e em Viena, respetivamente.

Realizou, por motivos de saúde, uma terceira viagem à Europa entre 30 de junho de 1887 e 22 de agosto de 1888, passando por Portugal e fixando-se em Paris, onde, em 1889, se exilou definitivamente. Durante o exílio, que durou até à sua morte, terá continuado os seus estudos em torno das línguas orientais. Em 1890, foi patrono do VIII Congresso Internacional dos Americanistas, em Paris, participando ativamente no painel sobre a descoberta da América.

Além das associações já referidas, foi também patrono do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, membro da Société de Géographie de Paris (1868) e da Société de Géographie de Lyon (1886), membro associado estrangeiro do Institut de France (eleito a 4 de julho de 1877), presidente de honra da Société Scientifique et Littéraire de Cannes (1877), membro associado estrangeiro da Académie des Sciences (1877) e da Société d’Anthropologie (eleito a 6 de janeiro de 1876), membro da Société des Américanistes, Royal Fellow da Royal Society (eleito a 23 de novembro de 1871), membro associado estrangeiro da Académie d’Agriculture de France (1877) e membro da Société Polymathique du Morbihan. 


Ver Dicionário de Orientalistas de Língua Portuguesa,
https://orientalistasdelinguaportuguesa.wordpress.com/d-pedro-ii/

 

Bibliografia selecionada do autor

1889. Quelques notes sur la langue tupí. In Le Brésil. Org. Émile Levasseur. Sep. La Grande Encyclopédie, vol. VII. Paris: H. Lamirault et Cie, 89-92. Disponível em http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/518670.
1890. Ms. As Mil e Uma Noites [tradução]. Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC, Mç. 41, doc. 1064 – Cat. B.
1891. Ms. Hitopadeça [tradução]. Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC, Mç. 41, doc. 1064 – Cat. B.
1891. Poesias Hebraico-Provençais do Ritual Israelita Comtadin. [Tradução do Hebraico.] Avignon: [s.n.].
 

CS e CNA
última atualização em abril de 2018