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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Augusto Soromenho (Aveiro, 1833 – Lisboa, 1878)

Augusto Soromenho
© 1878. O Occidente 3 (1 fev.): 21. Disponível em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente/1878/N3/N3_item1/ P5.html.
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Pouco tempo depois do seu nascimento, a 20 de fevereiro de 1833, no concelho de Aveiro, seus pais, Manuel Álvares de Lima e Maria José Pereira Soromenho, mudaram-se para o Porto, fugindo à invasão das tropas liberais. Muito jovem, Augusto Soromenho empregou-se como aduaneiro na Alfandêga, escrevendo para os periódicos Miscellanea Poetica: jornal de poesias ineditas (1851-1852) e O Christianismo: semanario religioso (1852). 

Entre 1853 e 1860, partilhou com Camilo Castelo Branco, de quem se tornou amigo, a direção do jornal A Cruz: semanario religioso, frequentando nos seus tempos livres a Biblioteca de São Lázaro no Porto. Foi aí que conheceu José Ferreira da Silva, redator do jornal portuense Portugal e defensor dos direitos de D. Miguel ao trono, que o contratou como colaborador e revisor.

Em 1855, Soromenho ocupou um lugar na Biblioteca Municipal do Porto, dedicando mais tempo aos estudos arqueológicos e de História de Portugal. Dirigiu a coleção Bibliotheca Catholica do Seculo XIX, na qual se pretendia publicar, em Português, Génie du Christianisme, de François-René de Chateaubriand, e cuja tradução por Camilo Castelo Branco se iniciara no periódico católico que ambos dirigiam, A Cruz (1853). A edição integral da obra em Português, traduzida por Castelo Branco e revista por Soromenho, sairia anos mais (1860), numa altura em que crescia a inimizade entre ambos.

Augusto Soromenho usaria vários nomes, como sejam Augusto Pereira de Vabo y Añya Gallego Soromenho, Castro e Pedegache, A. Pereira Soromenho, A. S. Seromenho ou Abd-Allah. Foi com este último pseudónimo que assinou, na Revista Peninsular (1857), um artigo em que elogiou Camilo como romancista, ainda que o criticasse duramente como poeta. Soromenho publicara anteriormente um livro de poesias Diwan (1855), em que ecoam traços orientalistas.

A colaboração que estabelecera com Alexandre Herculano, compilando documentação em cartórios de colegiadas e mosteiros e enviando-a para o Arquivo Nacional, levou este historiador a convidá-lo a deixar o seu lugar na Biblioteca do Porto e a mudar-se para Lisboa. Logo, em 1858, integrou os serviços da Academia Real das Ciências de Lisboa, investigando temas históricos, arqueológicos, linguísticos e literários. No ano seguinte, Soromenho passou a académico correspondente da classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras. Foi ainda no desempenho das suas funções que traduziu e prefaciou as Noticias Archeologicas de Portugal (1871), de Emílio Hübner (1834-1901), e que, em 1877, substituiu Alexandre Herculano na coordenação da obra Portugaliæ Monumenta Historica.

Por indicação de Herculano, com quem se incompatibilizaria mais tarde, Soromenho recebeu uma bolsa do Governo Português, deslocando-se a Madrid (1859) para estudar paleografia e língua árabe com o reconhecido arabista Pascual de Gayangos y Arce (1809-1897). Em cerca de seis meses (maio de 1860), Soromenho ficou habilitado a ensinar Árabe e noções de paleografia e numismática arábicas. Ainda em 1860, foi eleito membro da Sociedade Asiática de Paris e começou a lecionar Árabe no Liceu Nacional de Lisboa, que só deixaria com o desaparecimento da disciplina do currículo, em 1868.

Após a criação da Comissão dos Monumentos Eclesiásticos (1861), presidida por Alexandre Herculano, Soromenho foi contratado como paleógrafo-tarefeiro. Seis anos depois, e após ter apresentado uma dissertação sobre a Origem da Lingua Portugueza, torna-se professor da cadeira de Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras, que lecionou até 1871, altura em que passaria a ministrar a de História Universal e Pátria, que assegurou até ao fim dos seus dias. Para além da docência, Soromenho desempenharia os cargos de secretário do Curso Superior de Letras (1867-1870) e seu diretor (1874-1877).

Figura presente na vida cultural lisboeta, em maio de 1871, Soromenho assinou o manifesto das conhecidas Conferências do Casino, e a 6 de junho proferiu a terceira conferência, A Litteratura Portugueza. Ainda nesse mesmo mês, indigitado pela Academia Real das Ciências de Lisboa, apresentaria cumprimentos a Pedro II, o Imperador do Brasil, acompanhado pelo hebraista Salomão Saragga, que faria uma intervenção nas Conferências do Casino. Foi exatamente no dia em que esta estava agendada que o evento foi cancelado.

Augusto Soromenho participou na delegação portuguesa ao primeiro Congresso Internacional de Orientalistas (Paris, 1873), ainda que a intervenção oral fosse proferida pelo representante da delegação, Joaquim Possidónio Narciso da Silva. Nesta representação estariam igualmente figuras como António da Silva Túlio, Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara ou Guilherme de Vasconcelos Abreu. Estes intelectuais seriam convidados por Narciso da Silva para redigirem e aprovarem os estatutos da Associação Promotora do Desenvolvimento dos Estudos Orientais em Portugal. Em 1874, António Augusto Teixeira Vasconcelos, Augusto Soromenho e Vasconcelos Abreu elaborariam uma primeira proposta de estatutos, iniciando-se toda uma série de reuniões para a sua aprovação. Soromenho participaria intensamente neste processo.

Membro de várias outras agremiações internacionais como a Sociedade dos Antiquários de Londres, o Instituto Real Arqueológico da Grã-Bretanha e Irlanda, a Sociedade Arqueológica de Berlim ou ainda o Instituto Arqueológico de Roma, a 9 de janeiro de 1878, devido a uma tuberculose pulmonar e com apenas 44 anos, Augusto Soromenho morreria em Lisboa. O seu espólio encontra-se depositado na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

Bibliografia selecionada do autor

1855. Diwan. Porto: Tipografia de Portugal.
1867. Origem da Lingua Portugueza. [Tese para o concurso da cadeira de Literatura Moderna do Curso Superior de Letras.] Lisboa: Tipografia Francisco José da Silva. Disponível em http://purl.pt/32/3/#/1.
1860. O Genio do Christianismo, de Chateaubriand. Trad. Camilo Castelo Branco. Rev. Augusto Soromenho. Porto: Em casa de Cruz Coutinho.
1871. Noticias Archeologicas de Portugal, de Emilio Hübner. Trad. Augusto Soromenho. Lisboa: Tipografia da Academia. Disponível em https://ia600204.us.archive.org/8/items/noticiasarcheolo00hubn/noticiasarcheolo00hubn.pdf


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última atualização em setembro de 2020